Os juros básicos da economia brasileira não devem mais subir este ano, mas devem ser mantidos no atual patamar, de 14,25%, por período suficientemente prolongado. A indicação consta da ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) realizada na semana passada, que culminou em um novo aumento de juros de 0,5 ponto percentual, para 14,25% ao ano, o maior nível em nove anos.
Do documento divulgado nesta quinta-feira (6), o Banco Central retirou a expressão, que constava das atas anteriores, que afirmava que os avanços alcançados no combate à inflação ainda não se mostravam suficientes, reforçando a visão de que os juros não devem mais subir neste ano, como já acreditam os economistas do mercado financeiro.
Ao mesmo tempo, o BC manteve a avaliação, divulgada na semana passada, de que a manutenção do atual patamar da taxa básica de juros em 14,25% ao ano, por período suficientemente prolongado, é necessária para a convergência da inflação para a meta no final de 2016.
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Para o Comitê, os avanços alcançados no combate à inflação – a exemplo de sinais benignos vindos de indicadores de expectativas de médio e longo prazo – mostram que a estratégia de política monetária está na direção correta. Os riscos remanescentes para que as projeções de inflação do Copom atinjam com segurança o objetivo de 4,5% no final de 2016 são condizentes com o efeito defasado e cumulativo da ação de política monetária, mas exigem que a política monetária se mantenha vigilante em caso de desvios significativos das projeções de inflação em relação à meta, acrescentou o BC na ata.
Inflação em patamares elevados Para o Banco Central, o fato de a inflação atualmente se encontrar em patamares elevados reflete, em grande parte, os efeitos de dois importantes processos de ajustes de preços relativos na economia – realinhamento dos preços domésticos em relação aos internacionais (alta do dólar) e realinhamento dos preços administrados em relação aos livres (aumento de energia elétrica, por exemplo).
O Comitê considera ainda que, ao longo da primeira metade de 2015, entre outros fatores, esses ajustes de preços relativos na economia tornaram o balanço de riscos para a inflação desfavorável para este ano. Nesse contexto, conforme antecipado em Notas anteriores, esses ajustes de preços fazem com que a inflação se eleve no curto prazo e tenda a permanecer elevada em 2015, necessitando determinação e perseverança para impedir sua transmissão para prazos mais longos. Ao tempo em que reconhece que esses ajustes de preços relativos têm impactos diretos sobre a inflação, o Comitê reafirma sua visão de que a política monetária pode, deve e está contendo os efeitos de segunda ordem deles decorrentes, para circunscrevê-los a 2015, acrescentou o Banco Central.
Sistema de metas Pelo sistema de metas de inflação vigente na economia brasileira, o BC tem de calibrar os juros para atingir objetivos pré-determinados. Para 2015 e 2016, a meta central de inflação é de 4,5%, mas o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que serve de referência, pode oscilar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida.
Em junho, a inflação oficial ficou em 0,79%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nos seis primeiros meses deste ano, a inflação somou 6,17% (muito próxima do teto da meta de 6,5% para todo ano) e, em doze meses até junho, totalizou 8,89% - a maior taxa desde dezembro de 2003, quando ficou em 9,30%
O próprio Banco Central já admite que a inflação deve estourar o teto de 6,5% do sistema de metas em 2015. A previsão do BC é de que a inflação fique em 9% neste ano. Já o mercado prevê um IPCA de 9,25% em 2015. o Banco Central tem dito que trabalha para evitar a propagação da inflação neste ano e para trazer a o IPCA para o centro da meta, de 4,5%, até o final de 2016.
Produto Interno Bruto O Copom avaliou ainda que, em conformidade com o processo de ajuste macroeconômico em curso, os indicadores disponíveis mostram que as taxas de crescimento da absorção interna e do PIB continuaram a se ajustar e confirmam que o ritmo de expansão da atividade doméstica neste ano será inferior ao potencial.
Após a queda do PIB no primeiro trimestre, analistas acreditam na possibilidade de o país entrar em recessão, que se caracteriza por dois trimestres seguidos de contração da economia. A expectativa da maior parte do mercado financeiro, em pesquisa realizada na semana passada pelo BC com mais de 100 analistas de bancos, é de que a economia brasileira tenha retração de 1,80% em 2015 – a maior em 25 anos.
Em particular, o investimento tem-se retraído, influenciado, principalmente, pela ocorrência de eventos não econômicos, e o consumo privado mostra sinais de maior moderação em linha com recentes dados de crédito, emprego e renda. Entretanto, para o Comitê, depois de um período necessário de ajustes, o ritmo de atividade tende a se intensificar, na medida em que a confiança de firmas e famílias se fortaleça, informou o Banco Central, na ata do Copom.
Para o BC, o cenário de maior crescimento global, combinado com a depreciação do real (alta do dólar), atua no sentido de torná-lo mais favorável ao crescimento da economia brasileira - por meio do crescimento das vendas externas.
Pelo lado da oferta, o Comitê avalia que, em prazos mais longos, emergem perspectivas mais favoráveis à competitividade da indústria e da agropecuária. O setor de serviços, por sua vez, tende a crescer a taxas menores do que as registradas em anos recentes. Para o Comitê, é plausível afirmar que esses desenvolvimentos – somados a avanços na qualificação da mão de obra e ao programa de concessão de serviços públicos – traduzir-se-ão numa alocação mais eficiente dos fatores de produção da economia e em ganhos de produtividade, concluiu o Banco Central.
Por Alexandro Martello - G1
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