Alguns mais engajados e outros nem tanto, jovens que prometem participar do novo protesto hoje em Goiânia têm um sonho em comum: um paÃs melhor
Nos últimos dias, o Brasil tem testemunhado um movimento que há muito tempo não se via igual no PaÃs, desde a marcha dos cara-pintadas, em 1992, que mobilizou estudantes do PaÃs inteiro pelo impeachment do então presidente Fernando Collor. Jovens tomam conta das ruas de várias cidades brasileiras de Norte a Sul do PaÃs em enormes manifestações, que começaram como um protesto contra o aumento das passagens e agora assumem outras bandeiras, como o fim da corrupção.
Em Goiânia, eles prometem nova mobilização hoje, às 17 horas. No Facebook, o convite para o protesto já tem mais de 60 mil presenças confirmadas. Outras 12 mil pessoas disseram que talvez participarão.
Mas quem são estes jovens e o que os motiva? Um deles é Iago Montalvão, 20 anos, estudante de História na Universidade Federal de Goiás (UFG), atualmente envolvido num projeto de pesquisa sobre a Revolução Cubana, e um dos coordenadores gerais do DCE da UFG. De cabelo longo e adepto das camisetas com a foto de Che Guevara, um dos lÃderes da Revolução Cubana (1953-1959), ele diz que nasceu com “polÃtica na veia†– é filho de Romualdo Pessoa, ex-lÃder estudantil, militante do PCdoB por vários anos e hoje professor do Instituto de Estudos Socioambientais da UFG.
Desde criança, Iago acompanhava os pais em reuniões polÃticas e, já no ensino médio, era participante ativo do grêmio estudantil da escola. Ele conta que, além da influência familiar, sua motivação cotidiana é a vontade de mudança.
“Tenho uma ideologia revolucionária de transformar a sociedade e acredito que essa participação ativa contribui para isso. Estou indo para as ruas porque o transporte público em Goiânia e nas outras cidades brasileiras não corresponde aos anseios mÃnimos dos usuários. A forma com que ele é mercantilizado fere a cidadania, afinal o direito de ir e vir é básicoâ€, explica.
Embora a luta principal seja contra o aumento da tarifa, Iago e o grupo de manifestantes defendem a gratuidade do transporte público para os estudantes. “Como o estudante vai estudar se ele tem de pagar para se locomover?â€, questiona.
Participante ativo dos últimos protestos que foram realizados em Goiânia, segundo ele, as manifestações começaram como uma mobilização de jovens universitários e estudantes secundaristas, pertencentes à classe média e com um bom nÃvel de politização. Com o amplo apoio que os protestos têm recebido, o perfil dos integrantes está mudando, observa.
“Acho que veremos desde o ‘burguês’ que reclama da alta do imposto que eleva o preço do videogame ao jovem da periferia e o cara que requer o cancelamento da Copa do Mundoâ€, diz.
Compartilhando com o filho Iago o desejo por mudanças, o professor Romualdo Pessoa avalia que essa onda de protestos dá vazão a algo há muito represado. “Há uns dois, três anos o jovem brasileiro tem acompanhado rebeliões que acontecem no mundo, na Europa, nos Estados Unidos e recentemente na Turquia e agora ele vai para as ruas no Brasil movido também por essa insatisfaçãoâ€, comenta.
CARTAZES
Quem também estará presente na manifestação é a jornalista e mestranda Luana Silva Borges, 25 anos. Ela afirma que não faz parte de nenhum movimento, mas que irá lutar por um paÃs melhor. Luana e mais quatro amigos colaram cartazes em pontos de ônibus convidando a população para o protesto.
“Estamos cansados da roubalheira, de não ter escola e hospitais de qualidade. Estamos mostrando que existimos e queremos ser ouvidos. Não estamos nas ruas para quebrar, para fazer vandalismo, e sim, para expor nosso descontentamento. Já deuâ€, ressalta ela.
“Vivemos em uma cidade cheia de pressões diárias, de compromissos que precisam ser cumpridos, onde tudo é muito caro, são pessoas se esmagando nos terminais, lutando para entrar nos ônibus, caindo, se machucando e pagando por algo que não correspondeâ€, completa.
Já Thalys Augusto, 20 anos, também estudante universitária e que participou dos outros cinco protestos em Goiânia, observa que, devido à onda de manifestações que vêm ocorrendo no Brasil, várias pessoas passaram a se interessar pela causa. “Existe insatisfação por muita coisa. São pautas genéricas e pouco politizadas, como corrupção. A nossa é o transporte. A ideia é que não tenha aumento de 15 centavos. Queremos saber por que estamos pagando tão caro, se não temos qualidade.â€
Segundo ele, as ações violentas, mesmo sendo ilegais, mostram a insatisfação das pessoas, porém o jovem diz que não acha correto o vandalismo, como o que ocorreu na Praça da BÃblia e no Terminal Padre Pelágio. “É algo muito grande, muito bom, mas, ao mesmo tempo, espantoso. O pessoal está mobilizado, seja no trabalho, nas escolas ou mesmo nas igrejasâ€, afirma. “Acredito que pessoas organizadas podem modificar as coisas e podem lutar pelos seus direitos.â€
“A população acordouâ€
Willer Castro, 26 anos, estudante de jornalismo da PUC-GO e empresário de eventos, não é usuário do transporte público da cidade, já que tem seu próprio carro – um Nissan Sedan, comprado com seu próprio dinheiro, como ele faz questão de frisar. Mesmo assim, Willer é um dos que pretendem marcar presença na manifestação programada para hoje e faz questão de manifestar seu entusiasmo, via Facebook, com a onda de protestos que ganha o PaÃs.
“O diferente é que agora a população acordou para os abusos do governo, principalmente quanto aos impostos e o custo de vida como alimentação, saúde e educação por conta da corrupçãoâ€, propaga.
Estagiário da Saneago, o rapaz, que mora com a famÃlia (o pai é médico e a mãe, advogada), ganha cerca de 600 reais por mês na função. Empreendedor, há nove anos, ele abriu sua própria empresa, para organizar viagens acadêmicas – por conta desse trabalho, ele costuma viajar para o exterior, principalmente Chile e Argentina, de três a cinco vezes por ano.
“Acho que é preciso melhorar o uso da máquina pública em relação ao dinheiro arrecadado e evitar desvio de verba e de impostoâ€, discursa Willer.
AUTORIZAÇÃO PATERNA
Outro que também promete participar do protesto de hoje é o estudante Arthur Silva, 13 anos, que nem tinha nascido quando grandes manifestações populares agitaram o PaÃs pela última vez. No entanto, ele se mostra disposto a participar da mobilização agora em curso.
“Se meu pai me autorizar, vou eu e minha irmã para a manifestação desta quintaâ€, anuncia ele. Estudante do oitavo ano do ensino fundamental, ele já tem na ponta da lÃngua os muitos motivos que o estimulam a engrossar o número de participantes da marcha. “Vou protestar contra a corrupção, o gasto errado do dinheiro público, contra tudo de errado que está aÃ.â€
Por Bruno Félix e Renata Santos - O Popular
|