Órgãos, bancos, consultorias apontam que impactos da paralisação devem se estender além dos dias em que atividade ficou parada; incertezas sobre eleições também pesam.
A greve dos caminhoneiros impactou fortemente os indicadores econômicos dos meses de maio e junho. Além dos efeitos nesses meses, as revisões de projeções do crescimento para este ano indicam que os prejuízos da greve à economia devem se estender além dos 11 dias em que os caminhoneiros ficaram parados.
Um dos órgãos que piorou as expectativas para o crescimento da economia brasileira neste ano citando a greve entre as justificativas foi o Fundo Monetário Internacional (FMI). A projeção em abril para o Produto Interno Bruto (PIB) era de alta de 2,3%. Agora, é de 1,8%.
O próprio governo deve revisar as projeções. O ministério da Fazenda também deve reduzir de 2,5% para 1,6% a previsão de alta do PIB, segundo o colunista do G1 Valdo Cruz. O Banco Central já reduziu de 2,6% para 1,6%. Bancos, consultorias e analistas do mercado financeiro também pioraram suas expectativas para o ano, incluindo a greve em suas justificativas.
A paralisação veio em um momento em que já havia incertezas sobre a economia. O cenário eleitoral incerto já estava sob as atenções dos empresários e consumidores, e o internacional desfavorável também preocupava (com o aumento da taxa de juros dos Estados Unidos e temores sobre uma guerra comercial). Com a greve, os índices de confiança, que já vinham apresentando sinais de recuo, ampliaram as perdas.
Analistas apontam que, além dos efeitos dos 21 dias de produção e comércio parados sobre a atividade econômica, a greve também teve impacto sobre a percepção de força do governo.
“Essa falta de reação do governo trouxe a sensação de que as instituições podem demorar muito tempo para resolver um problema e nos deixar reféns de uma categoria, como foi o caso”, analisa César Caselani, da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
“Foi um baque muito grande no governo, o poder de reação foi mínimo”, concorda Carneiro. “O governo já estava fraco e ficou absolutamente debilitado, e isso contribui para colocar as expectativas para baixo”, complementa o economista, apontando que o questionamento que se faz é sobre a capacidade do governo de promover medidas para tentar reequilibrar as contas públicas.
Juliana Inhasz, professora de economia do Insper, comenta os efeitos que a greve ainda pode causar, já que a maior parte das medidas que foram prometidas para encerrar a paralisação ainda estão em discussão.
A tabela de fretes ainda em discussão, o preço do diesel nas refinarias que pode subir muito por conta do tempo represado. Tudo isso pode criar um elemento a mais de incerteza. [Esses fatores] podem fazer com que a gente tenha a sensação de que a greve dos caminhoneiros não foi uma coisa que passou, diz ela.
Os economistas afirmam que os agentes econômicos – empresários e consumidores – estão em “compasso de espera” para retomar a atividade.
“O governo perdeu confiança, e isso atrasa os investimentos. Gente que estava pensando em investir resolveu segurar. No fundo, o que está acontecendo é que todo mundo está esperando a eleição acabar”, diz Carneiro.
“Eu acho pouco provável que alguma coisa mude antes das eleições”, concorda o professor Caselani. “Não dá para a gente sonhar com a volta do crescimento sem a volta da confiança dos agentes econômicos. Se eu não melhorar a perspectiva de emprego ou de abrir uma nova empresa, por exemplo, nem consumidores nem empresários vão dar uma guinada em termos positivos.”
Além da queda nas projeções para a economia do ano, alguns indicadores já mostram as perdas de diversos setores nos meses afetados pela greve. Um deles é o que mede o desempenho dos serviços, que tem peso importante no PIB. A queda foi de 3,8% no mês em que começou a paralisação.
Enquanto isso, a inflação voltou a ganhar força. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu para 1,26% em junho, na maior taxa para o mês de junho desde 1995.
Por Karina Trevizan - G1
|